Histórico
O Cemef foi criado no ano de 2001, por iniciativa do Prof. Dr. Tarcísio Mauro Vago, com o propósito inicial de ser um lugar institucional capaz de contribuir para a recuperação, preservação, conservação e divulgação de documentos relativos à história da própria Escola de Educação Física que, dispersos na instituição, corriam risco de degradação ou perda. Isso porque, em condições não planificadas, a EEFFTO guardava, um valioso acervo inativo, abrangendo vasta documentação acumulada desde a década de 1950, relativa às rotinas administrativas e acadêmicas, além de películas cinematográficas, fotografias, instrumentos de medida dos corpos, livros, periódicos esportivos e acadêmicos, entre outros dispositivos didáticos e científicos utilizados na formação de professores.
Os exercícios iniciais de identificação, mapeamento e recolhimento desse acervo foram já acompanhados das primeiras pesquisas que tomaram a história da Escola de Educação Física como tema central. Nesses termos, podemos afirmar que a história institucional também orientou o estabelecimento do centro de documentação e pesquisa. No governo de Juscelino Kubitschek, em fevereiro de 1952, tinha início as atividades da primeira Escola de Educação Física do Estado de Minas Gerais, de caráter público e vinculada à Diretoria de Esportes de Minas Gerais. No mesmo ano foi criada também em Belo Horizonte a Escola de Educação Física das Faculdades Católicas, mantida pela Sociedade Mineira de Cultura. Os currículos das duas escolas eram similares e orientados pelo Decreto-lei 1212, de 17 de abril de 1939 que prescrevia a Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), da Universidade do Brasil, como referência. Um ano depois, 1953, houve a fusão das Escolas, em acordo firmado por Juscelino Kubitschek e Dom Cabral, sendo denominada, a partir daí como Escola de Educação Física de Minas Gerais. Com importante destaque no cenário mineiro essa escola começou a experimentar dificuldades na década de 1960 e, em novembro de 1969, foi agregada à Universidade Federal de Minas Gerais, por meio do Decreto-Lei nº 997. A inserção definitiva deu-se com a instalação da Congregação da Escola de Educação Física (EEF), em 1973 e essa integração à UFMG trouxe mudanças significativas para a instituição, exigindo mudanças em sua estrutura, coordenação e funcionamento. No final da década de 1970, a EEF passa também a acolher os cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, modificando assim a sua abrangência e configuração e, por consequência, os órgãos e setores produtores de documentos.
Tomando essa trajetória institucional com relevante referência, o Cemef inicia o processo de organização de seus fundos e coleções, adotando como balizas as décadas de 1950, 1960 e 1970. Essa primeira demarcação temporal, orientou o estabelecimento dos fundos institucionais custodiados pelo Centro e foi gradativamente ampliada pela recepção de outros acervos estabelecidos como arquivos e também como coleções. Note-se que a expansão dos movimentos de pesquisa também atuou como catalisadora de novos itens documentais.
Nos primeiros anos de funcionamento do Cemef a pesquisa histórica priorizou os estudos sobre a instituição e suas práticas de gestão e de formação de professores. A estes movimentos, foram agregados outros, de mapeamento e/ou de recolhimento de acervos externos à EEFFTO. Por meio desses exercícios plurais de investigação os resultados das pesquisas foram se alargando em seus temas, objetos e níveis de complexidade, expressos na produção de trabalhos de conclusão de curso e nas primeiras dissertações de mestrado.
Todo o trabalho de pesquisa, guarda e tratamento arquivístico era realizado em uma pequena sala, localizada no terceiro andar da EEFFTO. Esse espaço foi ocupado pelo Cemef entre 2001 e 2010, abrigando o nascimento e a consolidação de importantes ações de pesquisa e formação.
No ano de 2005, o Cemef passou a compor o Núcleo da Rede Cedes recém instituído na EEFFTO da UFMG, por meio do “Grupo 4: Esporte e lazer: Pesquisa, Memória e Formação”. A partir dessa agência de fomento, vinculada ao Ministério do Esporte, desenvolveu seus primeiros projetos coletivos, envolvendo docentes e estudantes de graduação e pós-graduação. O efetivo trabalho desse Núcleo promoveu as condições de possibilidade para que, em 2006, por meio do Projeto de Pesquisa “Levantamento e catalogação de fontes para o estudo da educação do corpo em Belo Horizonte (1891-1930)”, o Cemef concorresse e fosse contemplado em uma chamada pública FINEP/Ministério do Esporte, que viabilizou a construção de uma sede própria para o Centro.
Concomitante ao processo de edificação do prédio, o grupo de trabalho do Cemef intensificou suas ações de pesquisa. Além da execução do projeto supracitado, o grupo de pesquisa também concorreu, foi contemplado e executou dois importantes projetos fomentados pela FAPEMIG, ambos aprovados no ano de 2009: “Circularidade de modelos pedagógicos e formação de professores de Educação Física em Belo Horizonte: vestígios de práticas no acervo do CEMEF/UFMG (1950-1980)” por meio do Edital FAPEMIG 07/2009 ( Programa de apoio a grupos emergentes de pesquisa) e “O Cemef/UFMG como lugar de memória e pesquisa da história do esporte em Minas Gerais: organização e conservação de acervos” , por meio do Edital FAPEMIG 16/2009 (Apoio à pesquisa na área da História do Esporte).
No ano de 2011 o Cemef inaugura seu prédio próprio, especialmente construído para abrigar as atividades de pesquisa e para preservar, em sua reserva técnica climatizada, os acervos custodiados. Neste novo espaço foram ampliadas e diversificadas as ações de investigação e as atividades de formação de novos pesquisadores. Os grandes projetos coletivos cederam lugar aos projetos e interesses de pesquisa dos diferentes docentes e seus respectivos subgrupos. Todavia, em alguns desses novos projetos, levados a termo entre 2012 e 2018, a preocupação com os acervos se manteve, de modo que o trabalho de organização documental não fosse interrompido por ausência de recursos e fomentos.
Como forma de registro e divulgação das importantes ações que caracterizaram o Cemef em seus primeiros anos de trabalho a equipe de pesquisadores e bolsistas participou, no ano de 2013, da elaboração do primeiro livro do Cemef, intitulado “Organizando arquivos, produzindo nexos: a experiência de um centro de Memória”. A obra foi organizada por Meily Assbú linhales e Adalson Nascimento e publicada pela Editora Fino Traço, no ano de 2013. Partilhando suas experiências de pesquisa e formação o Cemef constitui-se como uma importante referência nos debates sobre história e memória atinentes ao campo acadêmico da Educação Física Brasileira.
Na última década, o Cemef também expandiu suas ações de extroversão de acervo, dedicando-se à produção de várias exposições temáticas. Tal iniciativa foi possibilitada pelas condições espaciais da nova sede e também pelo crescente processo de finalização dos inventários, que potencializou os exercícios de apropriação e pesquisa nos acervos do Centro. Este movimento de amadurecimento do trabalho com os acervos também se expressou no processo de elaboração, em 2014, da “Política de acervos do Cemef”, com o propósito de apresentar as escolhas construídas para a Linha de Acervo, bem como os procedimentos e rotinas adotados nas ações de recolhimento, preservação e difusão documental.
A partir do vínculo institucional estabelecido com a Rede de Museus Espaços de Ciência e Cultura da UFMG, os docentes vinculados ao Cemef participam anualmente dos editais de fomento à extensão e à Iniciação cientifica, prioritariamente voltados para as atividades afeitas aos espaços da Rede. A presença de bolsistas de graduação sempre foi um fator decisivo na trajetória do Cemef. Este envolvimento dos alunos de graduação, por meio de diferentes modalidades de bolsas constituiu, efetivamente, as condições de possibilidades para todo o trabalho de organização de acervos e, em um movimento de mão dupla, tal experiência acadêmica suscitou, para muitos que passaram pelo Cemef, a possibilidade de continuação de suas formações, por meio da realização de mestrados e doutorados. Em 2018, o Cemef passa a contar com uma servidora do corpo técnico-administrativo que passa a compor a equipe de trabalho, somando esforços nos processos de organização de acervos.